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As pessoas são melhores se descobrirmos o que nelas há de melhor. A sociedade torne-se melhor se as pessoas forem niveladas por cima.

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As pessoas são melhores se descobrirmos o que nelas há de melhor. A sociedade torne-se melhor se as pessoas forem niveladas por cima.

Grosseiro, indecente e ordinário

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Salvador Sobral ganhou o Festival da Eurovisão. Com a sua irmã Luísa Sobral. Nenhum cantor português nem nenhum autor ou compositor português tinha alguma vez, na História de Portugal alcançado tal feito.

Ao contrário de Saramago que manifestou a sua opção pela integração de Portugal numa Espanha alargada sob o domínio castelhano e que era extremamente antipático, os irmãos Sobral encantaram os portugueses.

As primeiras palavras de Salvador foram, mais ou menos, estas:

- Ganhámos com uma canção bonita e não com uma foleirada, como é costume.

São palavras duras, mas que foram de imediato apoiadas pelo responsável da Eurovisão ali presente. A representação portuguesa não ganhou por causa da máquina comercial que tinha por trás, que talvez não tivesse, mas pela qualidade e contra as maiores máquinas comerciais.

O que aconteceu foi motivo de alegria para muitos portugueses. Muitos de nós esperámos alguns cinquenta anos por este momento. E precisamente por este momento, pela vitória de uma bela canção portuguesa, como tantas que já lá levámos, e não por alguma foleirada, como algumas que também levámos já à Eurovisão.

Foi o momento certo para os Velhos do Restelo deitarem a cabeça de fora do covil e se lançarem contra o rapaz. Esses e os invejosos. Num programa de rádio, em Espanha, chegaram a ser sarcásticos por causa de Salvador ser uma pessoa doente do coração. Para nós deve afinal ser mais um motivo de orgulho, pois, mesmo doente, venceu e deu-nos uma grande alegria, colocando Portugal e a cultura musical portuguesa num lugar mais de acordo com a realidade.

A interpretação não precisou de se prostituir: Salvador nem sequer se despiu, travestiu, nem outras coisas a que temos assistido de quem quer vencer de qualquer maneira.

O poema não precisou de se prostituir: nem asneiras, nem repetições enfadonhas, nem palavras em inglês fácil e sem sentido, mas um poema, talvez difícil, como muitos dos de Antero, Pessoa ou Luís Vaz.

A música não se prostitui: era mesmo música e não batuque suportado por gritaria.

Não foram os efeitos especiais que cativaram o público europeu e mundial, mas a composição e a interpretação.

Ainda assim, há gente nas redes sociais e na comunicação social a atirar-se aos irmãos Sobral. Coitados!

No espectáculo a favor das vítimas dos incêndios, perante tanto aplauso despropositado, aparentemente, Salvador Sobral, quis tirar a prova e disparou:

- Vocês batem palmas de cada vez que faço ou digo qualquer coisa. Se eu der um peido, vão bater palmas.

Caiu o Carmo e a Trindade! Que grande ordinarice! Como era possível um recém chegado à ribalta do negócio do entretenimento atrever-se a tanto.

Atreveu-se e a plateia deu-lhe razão. Correspondeu ao peido com forte aplauso. Ainda que possam não ter percebido o que o cantor disse, continuaram a dar-lhe razão: bateram palmas sem saber a quê. A integridade da pessoa foi a mesma de quando ganhou o Festival, em Kiev: a verdade, doa a quem doer.

Dispararam de muitos lugares indignados os mesmos que viram Herman José na televisão ficar em cuecas, ou que o ouviram falar com um rapaz adolescente sobre os comentários que ouvia na escola acerca das mamocas da sua mãe, uma cantora famosa, os que perdem tempo com o Love on Top ou com o 5 para a Meia-noite, os mesmos cujos filhos e netos aprendem e ensinam na escola os maiores palavrões e ordinarices aos colegas, repetem junto dos professores e em casa aos pais. Os que dispararam são mesmo aqueles que enchem as suas páginas nas redes sociais com as maiores indecências e os maiores palavrões, especialmente para defenderem as suas cores clubísticas ou partidárias. Que nos valha o bom senso!

Mas o Salvador Sobral, que até veio depois pedir desculpa, é o mau.

Como pode um país onde apenas um conseguiu alcançar determinada meta atirar-se cheio de inveja contra ele?

Grosseiros, indecentes e ordinários são estes e não aquele que lhes chamou acertadamente frívolos e maria-vai-com-as-outras.

 

Orlando de Carvalho

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