A desacreditação da sociedade
Quando eu era criança, tinha a noção que ser médico, ser professor, ser padre, ser juiz, era sinal de idoneidade.
Essa perspectiva, eu bebi-a da sociedade. Associar padre e gatuno parecia pecado.
Hoje parece que tudo mudou. Mas talvez nada tenha mudado além da abertura para falar claro e chamar as coisas pelos seus nomes.
Médico surge associado a erro médico e a corrupção ou abuso sexual quando passamos as páginas dos jornais ou da Internet.
Professor… os professores são a classe profissional que mais necessidade sente de se lastimar nas redes sociais.
A RTP associa o nome do ecónomo do Patriarcado de Lisboa a fraude.
Os fiéis ficam indecisos em relação a contribuírem para a Caritas.
A justiça dos tribunais é motivo de troça, senão na comunicação social, nas conversas entre pessoas que olham para as sentenças proferidas, para as penas suspensas, para tanta injustiça e não entendem como é possível.
Por que razão não há-de haver gatunos entre os médicos, os professores, os padres, os juízes?
A ex-candidata à Presidência da República tinha sido acusada de desviar dinheiro oferecido para o tratamento de doentes cancerosos em arranjos de flores para conferências.
As pessoas comuns, aquelas que não roubam mesmo porque não podem roubar, porque não têm maneira nem acesso a condições para roubar, não entendem isto, desanimam, não votam, não querem saber da política, isto é, de como vai o governo e a gestão da cidade, do país. Mas é entre estes que não podem roubar que se encontram os presos por roubo: num supermercado, por exemplo, num pequeno cheque sem cobertura. Porque estes não têm condições para contractar advogados daqueles que fazem parte das classes profissionais acima referidas e vão presas.
A um católico pode bastar confiar na Justiça Divina que se revelará no final dos tempos. Uma pessoa sem fé, no outro extremo filosófico, pode precisar de recorrer a uma justiça que não seja a politicamente correcta, que não seja a de Deus, mas que infelizmente desça ao nível daqueles que governam os países, as empresas, o emprego, o dinheiro que não lhes pertence.
Em Portugal, cada cidadão, revela a comunicação social de hoje, emprestou à Caixa Geral de Depósitos, via governantes indignos, cerca de mil euros. A um casal com três filhos roubaram, portanto, cinco mil euros. A este valor existe o que roubaram para manter o nível de vida de alguém, via governo e administrações de BES, BPP, BPN, BANIF, MG, talvez alguma destas siglas esteja a mais e devem faltar aqui algumas. Parece um carrocel de siglas ladronas.