Há mais de 13 anos, A. Pereira Caldas lamentava e reprovava a segregação étnica, no jornal Voz da Verdade.
Na ocasião, em Viseu, crianças ciganas tinham sido forçadas pelos pais dos outros alunos a mudar de escola, com o beneplácito das autoridades. E na nova escola, a cena estava a repetir-se.
Os seus argumentos são os valores que se devem sobrepor a tudo o mais. Consideramos esse argumento válido, mas frustrante. É um argumento que não aponta para qualquer horizonte nem projecta alguma melhoria de vida, nem para uma das partes, nem para a outra, uma vez que ignora e não responde às situações concretas.
Recordo, mais recentemente, a situação de crianças imigrantes búlgaras que na escola primária, em Loures, se valiam da sua cultura, da sua corpulência e de terem mais idade que as outras, portuguesas e de outras culturas, nomeadamente africanas e brasileiras, para lhes darem sovas e as roubarem. E quando houve reclamações, os pais búlgaros foram à escola ameaçar as outras crianças. Perante a passividade das autoridades.
Todos conhecemos algum compatriota nosso que é ou foi emigrante, senão temos mesmo dentro da família pessoas que procuraram melhor vida no estrangeiro.
Eu conheci comunidades portuguesas no estrangeiro.
A emigração portuguesa consistia normalmente em ir, trabalhar, amealhar, enviar dinheiro para casa ou estabelecer residência no novo destino, adaptando-se ao novo ambiente. A cultura portuguesa, incluindo a língua e a religião, mantinham-se sem nunca entrarem em conflito com os “donos da casa”, aqueles que abriam as portas e acolhiam, não importa com que benefícios para eles, interessa sim que os portugueses melhoravam quase sempre o seu nível de vida.
Também Portugal acolheu em meados do século passado enormes contingentes de homens cabo-verdianos, contratados por construtores civis que buscavam salários baixos numa guerra que se desenhava em construir depressa e enriquecer ainda mais rapidamente.
Muitas dessas famílias mantêm-se na sociedade portuguesa, com os seus hábitos, mas integradas.
Um cristão, e os portugueses são cristãos na sua génese e no seu fundamental, no pensamento e na vivência social, recebe os refugiados, os emigrantes, os estrangeiros. E sempre ouvi dizer, desde muito novo, que o português recebe bem, sem desmentidos até à actualidade.
Coisas diferentes são acolher bem e deixar-se invadir.
Não existe nesta linha de pensamento qualquer ideia racista e para o explicar recorro ao futebol.
De todas as fontes clubísticas surgem as mesmas acusações. Favorecimento aos clubes grandes, favorecimento aos clubes da casa, mas pior que isso: o futebolista A comete uma falta grave e vê o cartão amarelo, mas se volta a cometê-la, principalmente se é um jogo muito importante, o árbitro não mostra segundo cartão, para não ter de o expulsar, mas mostra a outro jogador que cometa a mesma falta se não tiver de o expulsar. Ora, a lei ou é para cumprir ou não serve para nada.
Em relação aos estrangeiros ou povos de qualquer etnia existe a necessidade de acolhimento, mas de os fazer cumprir a mesma lei que existe para os que já lá estavam.
Se a autoridade age com medo perante uns, sujeita-se a ter de meter a viola no saco quando os outros lhe tecem comentários desagradáveis. E aqui o conceito de autoridade é muito abrangente e inclui muitos actores.
É preciso ensinar a acolher e a tratar com cordialidade, mas ensinar também como se deve reagir, quais as medidas a tomar quando o acolhimento e a cordialidade são respondidos com insulto e agressividade. A lei que existe não dá resposta, pelo menos na prática, e quando ela não funciona surgem os Trump, os Le Pen, que não resolvem nada, pelo contrário, mas parecem ser os únicos a dar resposta aos que são agredidos de variados modos, pelos que são diferentes, pelos hóspedes ou invasores, conforme o ponto de vista, embora estejam na sua própria terra.
O mesmo pensamento se aplica aos novos ateus que querem roubar aos que há séculos ou milhares de anos vivem a sua fé, impedindo-os de exibir cruzes e outros sinais religiosos.
Os portugueses sempre foram cristãos e continuam a sê-lo, de muitas formas o demonstrando. Quando meia dúzia de ateus anti-Igreja impõem determinado regime, fabricam as leis e querem tornar ilegal a prática da língua, da religião, da maneira de pensar, que se há-de fazer?
Estes tipos de ditadura, venham de dentro ou de fora, só servem para amachucar as pessoas honestas e de bem e trazer infelicidade aos cidadãos e às famílias, impondo, normalmente uma cultura de morte.
Que Deus nos valha e nos inspire.
Orlando de Carvalho