A América não presta
O Primeiro Dia de Acção de Graças, Pintura de Mike White
A América não presta. Esta América que conhecemos não presta. Os seus cidadãos são filhos daqueles que fugiram da repressão religiosa da liberal Inglaterra e da Alemanha e dos que escaparam à perseguição inquisitorial em Espanha ou Itália. Tudo perseguição contra o ensinamento evangélico. Pois mesmo esses perseguidos e refugiados rapidamente esqueceram a sua condição e encetaram as suas próprias caçadas contra inocentes. Americanos destes não prestam. São filhos de europeus mas perderam a memória.
Os primeiros colonos na América viram-se numa situação adversa e fatal. O clima, as estações do ano, as épocas de sementeira e colheita, as sementes que germinavam naqueles solos, tudo diferia das suas terras de origem. Os primeiros de todos encontraram-se perante morte certa, à fome. Mas não morreram porque os bons selvagens lhes ofereceram sementes e plantas jovens e ensinaram aquelas criaturas estranhas que tinham chegado às suas terras a cultivá-las. Os bons selvagens portaram-se conforme o mandamento do Amor ao Próximo, mesmo sem lhes ter sido anunciado o Evangelho. Os colonos, gente estranha naquela terra, fugidos à perseguição religiosa, degradados por razões políticas ou por crimes de sangue, aventureiros em busca de vida melhor, deram-se conta do acto de caridade daqueles selvagens de cor de pele avermelhada. Quando as suas novas sementes e plantas vingaram, os colonos rejubilaram. E festejaram com peru. Porque o peru é um galináceo oriundo da América. Os selvagens também haviam dado perus aos imigrantes e fugitivos da Europa e tinham-nos ensinado a domesticar e a criar espécies animais desconhecidas na Europa.
Agradecidos àqueles selvagens tão bons, os refugiados e imigrantes chegados da Europa que conseguiram sobreviver aquele primeiro ano de ocupação de terras estrangeiras onde foram bem acolhidos, deram graças a Deus. Assaram a carne daquela terra, o peru, acompanharam-na com os legumes daquela terra, milho, abóbora, frutos silvestres. Europeus emigrados e nativos do Novo Mundo banquetearam-se em comum, os primeiros dando graças a Deus por terem encontrado gente tão boa que os tinha ajudado a sobreviver os de lá com uma humildade natural. Talvez isto se reporte ao ano 1621.
Praticamente Dia Nacional Americano, o Dia de Acção de Graças ou Thanksgiving Day, é celebrado nos Estados Unidos da América na quarta quinta-feira de Novembro. O gesto de gratidão mantém-se passados 400 anos. Entretanto, a ganância e a ingratidão dos fugitivos da Europa fê-los esquecer subitamente como tinham sido tratados pelos seus benfeitores selvagens e pouco depois encetaram uma matança que havia de conduzir ao genocídio de diversas tribos de nativos do Novo Mundo; usurparam a naturalidade aos seus anfitriões que passaram a ser considerados estrangeiros na própria terra em que tinham nascido, quando os europeus nem sabiam que aqueles lugares existiam.
Os descobridores europeus, em virtude da sua ignorância, chamaram índios aos nativos daquele Novo Mundo e à terra chamaram América, dando origem ao único continente da Terra com o nome decalcado de uma pessoa.
Estes refugiados europeus no Novo Mundo não tinham recebido as boas maneiras e cortesia que D. Catarina de Bragança ensinaria em terras britânicas nem tão pouco às evangélicas e corresponderam muito mal à gentileza com que foram recebidos no Novo Mundo. Àqueles a cuja mão tinham ido comer, os nativos de além-Atlântico, perseguiram, torturaram, roubaram as terras e violaram as filhas, expulsaram-nos das suas próprias casas e disseram que não os conheciam de lado nenhum. Esta América e estes americanos não prestam.
Usam pistolas e todo o tipo de instrumentos de morte como um europeu usa gravata ou soutien. A elegância deles é continuar a matar, como começaram quando invadiram o Novo Mundo. Levam pistolas para a escola como os europeus levam caneta, régua ou calculadora.
O negócio deles é fabricar armas e fomentar guerras entre povos e nações de boa gente, difundindo ideais de ódio para enriquecerem a vender instrumentos para matar. Os negócios americanos não prestam.
Não são demónios, não. Detiveram os tresloucados alemães da primeira e da segunda vez, os soviéticos um pouco por todo o mundo, embora nisto exista uma ligação com o seu negócio fundamental: a venda de instrumentos de guerra, mesmo com recurso à morte dos próprios americanos.
Os americanos já vão no segundo presidente, pelo menos o segundo, eleito com uma minoria de votos. São loucos estes americanos. E ingratos porque continuam a celebrar o Dia de Acção de Graças sem convidar os intermediários que Deus lhes enviou, os nativos selvagens do Novo Mundo.
Desenganem-se os que pensarem que este artigo é favorável aos antiamericanos, comunistas e outros. Este artigo é favorável aos bons selvagens, à gratidão, à vivência em paz com os vizinhos e entre povos, coisas que muitos americanos não devem conhecer.
E seria muito bom se conseguíssemos desabituar-nos de insultar os nativos do Novo Mundo chamando-lhes índios ou americanos, pois não são uma coisa nem outra.