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As pessoas são melhores se descobrirmos o que nelas há de melhor. A sociedade torne-se melhor se as pessoas forem niveladas por cima.

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As pessoas são melhores se descobrirmos o que nelas há de melhor. A sociedade torne-se melhor se as pessoas forem niveladas por cima.

De golpe militar a revolução

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Quando eu era criança, a minha mãezinha falava-me dos rios de sangue que tinham corrido nas ruas da Rússia quando ocorreu a revolução comunista.

Hoje, sei que isso era mais característico do tempo das cruzadas e que os chefes comunistas eram pessoas mais sofisticadas e mais cuidadosas. A maior parte das vítimas desaparecia sem rasto de sangue.

Em 1974 sucedeu um levantamento militar em simultâneo com uma revolução.

O levantamento militar teve origem em reivindicações salariais e sociais de militares oficiais de baixa patente. Foi claro, frontal e os homens assumiram a responsabilidade dos seus actos.

A revolução foi inicialmente levada a cabo por militares infiltrados entre os seus camaradas que realizaram o levantamento.

Quem está apensar numa reivindicação profissional nem dá aso, aos que têm em mente uma revolução popular, de o fazer.

Poucos dias depois do golpe militar, o partido enche-se de partidos políticos e as pessoas começam a conviver com isso, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Todavia, apenas uns quantos mais velhos possuem já uma experiência muito superficial dessa vivência. Se em Portugal não existiu vida democrática durante o Estado Novo, ela também não aconteceu na Primeira República nem na monarquia. O povo é, então, na sua quase totalidade, política e partidariamente virgem.

Uns quantos eram militantes e activistas na clandestinidade, havia também os activistas sindicais e contestatários estudantis e intelectuais. Coisa pouca para fazer frente à máquina controladora do Estado Novo. Nem a coligação das grandes potências mundiais, pela força e pela diplomacia, tinha conseguido vencer Portugal e o Estado Novo no confronto bélico nem no argumentário diplomático. Além de que Estado algum na cultura ocidental, ou noutra, tenha alguma vez dado, de boa e livre vontade, uma independência real às colónias que possuía, mas não conseguiu manter.

O Estado Novo acabou por cair e não vamos aqui analisar o porquê. Olhamos para o ambiente que se viveu após a queda. Embora mais de quatro quintos dos portugueses nunca tivessem ouvido falar de Mário Soares ou de Cunhal, eles surgem na vida pública portuguesa como se fossem familiares a todos os cidadãos. Tomou-se a parte mínima pelo todo. E não nos interessa agora saber se isso foi bom ou mau, apenas olhamos os factos.

Os partidos comunistas francês e italiano foram publicitados até à exaustão como exemplos comunistas que não eram bem comunistas, não tinham que ver com o comunismo russo. A mesma posição se apontava aos comunistas espanhóis, esses ainda na ilegalidade.

O marxismo difunde-se então em Portugal numa versão muito soft, muito peace and love.

O MDP/CDE apresenta-se como um movimento cívico que se tinha oposto à ditadura, mais ou menos apartidário e só tardiamente os cidadãos se aperceberam que mais não era que um heterónimo do PCP. Como movimento cívico pela democracia, o MDP/CDE assume o controlo da generalidade das juntas de freguesia e câmaras municipais, expulsando ou saneando os autarcas de nomeação governamental pelo anterior regime.

A dimensão da implantação do PCP em 1974/75 está intimamente relacionada com a dinâmica deste heterónimo e com os infiltrados que conseguiu no movimento dos capitães que operou o levantamento militar de Abril.

Um olhar que pode ajudar a entender o que se passou no país é o que lançamos ao modo como foram ocupados muitos monumentos nacionais ou prédios propriedade do Estado. O MDP/CDE teve papel importante nessas ocupações que usou como sedes nas quais instalou os seus serviços. Aprendida a lição, foi a caça generalizada por parte de todos os partidos, existentes ou imaginados, e movimentos, de esquerda e de direita, às instalações que lhes interessavam.

 

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Os comunistas sabiam bem quais iam ser os seus adversários. Os capitalistas, a quem na altura eles chamavam monopolistas, embora os monopólios só venham a ter relevo nefasto na sociedade portuguesa, sob outros nomes, muito mais tarde, aquando das privatizações originadas pelas nacionalizações, promovidas pelos tais comunistas infiltrados no movimento dos capitães, e com a legislação oriunda da União Europeia. Em segundo lugar, surgia como adversário dos comunistas a pequena percentagem da população com alguma cultura política, da extrema-esquerda, do socialismo não comunista e da direita que emergira do regime deposto. Por último, a Igreja. Conquanto os primeiros fossem combatidos através de adjectivos e cognomes, lemas e chavões, em relação à Igreja a guerra tinha de ser mais subtil. Havia católicos que eram militantes do Partido Comunista. O ataque é então dirigido aos padres que quase são proibidos de falar. os católicos, em geral, são apelidados de progressistas, enquanto os padres especificamente, com raras excepções, são reaccionários. Procura-se calar os padres, manietar as suas palavras nas homilias. Houve, de facto, exageros nalgumas homilias, tanto de padres à direita, como de padres à esquerda, mas não são os partidos políticos que que podem controlar o que o padre diz, na missa ou fora dela, muito menos quando se afirma que as liberdades são respostas com a Queda do Estado Novo, nomeadamente a religiosa e a de expressão. Todavia, apenas os padres que exageravam pela direita incomodavam os comunistas, os que exageravam pela esquerda eram boa gente. A insistência na referência ao termo comunista tem a ver com o ambiente. Sendo os comunistas uma pequeníssima percentagem da população, tiveram que fazer ruído como se representassem todo o povo, excluindo os tais que eles adjectivavam negativamente.

(Este artigo tem continuação)