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As pessoas são melhores se descobrirmos o que nelas há de melhor. A sociedade torne-se melhor se as pessoas forem niveladas por cima.

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As pessoas são melhores se descobrirmos o que nelas há de melhor. A sociedade torne-se melhor se as pessoas forem niveladas por cima.

Humanos que procuram água em Marte, desprezam-na na Terra

A saudade é um sentimento bom, o saudosismo cheira a saudade com demasiada nostalgia à mistura e pode tornar-se um pouco doentia. Por isso, convém distinguir. Os saudosos sentem a ausência de algo que já não é, os saudosistas esperam o retorno do que já acabou.

Em relação à água, o saudosismo pode não ser doentio, como noutros casos, porque a água é vida e desejar que a vida, que parece escapar, permaneça ou volte não pode ser considerado doentio, mas vital.

Ao longo das estradas de Portugal, em meados do século XX, encontravam-se muitas fontes e chafarizes onde os motoristas profissionais e as famílias em passeio tinham hipótese de parar e refrescar-se. Muitas vezes, junto dessas fontes, contruíam-se locais para pic-nic, com mesas e bancos, em madeira ou pedra. Tratava-se de locais de lazer e descanso, proporcionados gratuitamente a todas as pessoas.

Dentro das cidades, os chafarizes abundavam, não já os barrocos, mas peanhas de jacto contínuo ou com torneira. A pastelaria Mexicana, na Pç. de Londres, em Lisboa, tinha um sistema de refrigeração que permitia aos clientes, usando um dos copos disponíveis, em cima do balcão, enchê-los com água fresca e servirem-se. O mesmo sucedia noutros cafés e as geladarias ditas tradicionais ou artesanais faziam gala em servir copos de água fria com os gelados.

Hoje, a situação é completamente diferente.

As auto-estradas substituíram as estradas e aqueles que criaram este negócio rentabilizaram-no com as chamadas áreas de serviço, locais onde um café pode custar três ou quatro vezes mais caro que em qualquer bar a 50 metros de distância, mas fora dos limites da auto-estrada. O negócio é tão bom que mesmo fora das auto-estradas se constituíram áreas de serviço. Entretanto os antigos espaços gratuitos com água fresca e mesas para pic-nic acabaram. O Estado providenciou a sua destruição ou não fez a manutenção a que estava, pelo menos moralmente, obrigado quando outros procederam a essas destruições. 

Quem se farta de ganhar dinheiro com estas anomalias são os fabricantes de garrafas de plástico e os enchedores de água de nascente. Estes terão visto com natural satisfação a destruição das fontes nas bermas das estradas. 

Os chafarizes dentro das cidades desapareceram, mas em compensação, as garrafas de plástico existem à venda em toda a parte. E são pagas. E quem vai comprar uma garrafa de plástico pode sempre, decidir-se por uma coca-cola ou por um sumol! Uma bebida comprada por 30 ou 40 cêntimos pode assim ser vendida ao consumidor por 1 ou 2 euros. E o consumidor também colabora porque lhe dá menos trabalho (dará?) comprar a bebida a 1 euro que trazer um recipiente de casa cheio de água fresca!

Nesta semana em que várias sondas estão em Marte a fazer investigação científica, incluindo pesquisa de água, no nosso planeta evidenciamos a nossa inconsciência. Não vale a pena falar agora da água gasta na rega de jardins públicos, ao mesmo tempo que chove chuva caída do céu, água que um dia pode faltar nas nossas torneiras e que temos que pagar, porque os presidentes das juntas de freguesia e das câmaras municipais podem ser incompetentes a ponto de gastarem água desta maneira, mas não a pagam do bolso deles, forçam os contribuintes a pagar através dos seus impostos o fruto da sua ignorância e incompetência, o que nos parece constituir um roubo público.

Para que servem então as campanhas para economizar a água? Bem isso é outro assunto. São novos métodos para ganhar dinheiro. As campanhas normalmente são financiadas por órgãos do Estado ou da União Europeia e os promotores dessas campanhas beneficiam desses apoios. Que relações existem entre estes beneficiários desses fundos e os que atribuem os fundos e os legisladores que criam essas fundos? Essa deve ser uma história mais interessante que esta. Mas quem paga, somos sempre nós.

Uma história que fica para outra oportunidade é a dos chafarizes que desapareceram, porque a água que era para nós bebermos está agora a alimentar eucaliptos e quem os explora e destrói os terrenos do nosso Portugal.